Abram alas

Depois de algum tempo esgrimindo línguas que não nos pertencem, acabamos, muitas vezes, buscando traduções (ou improvisando correspondências) em vez de sinónimos, independentemente do lugar em que nos encontremos; se isto são sinais de inadequação a qualquer que seja o espaço mental comum, ou antes clarividência da impossibilidade da integração plena num meio que sempre será hostil, ignoro. As causas, sejam elas quais forem, são quase sempre difíceis de registar, já que o tempo trata, com frequência, de estabelecer uma névoa mais ou menos cerrada. As consequências, essas, pertencem à claridade, que é como quem diz tropeçamos nelas em plena luz do dia. 

Abram alas traduz-se por make way, ou seja, dêem lugar. Não se consegue passar. Custa desbravar terreno. O caminho não me pertence. Desconheço se haverá uma expressão particular para eu faço o caminho. Mas vêm-me, de novo, à cabeça uns versos daquele famosíssimo poema de José Régio, o "Cântigo Negro": 

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Serra de S. Mamede, Portalegre 

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