Quem se apeita


Hoje é dia da mulher, depois é o festival da canção e, por fim, chegam as legislativas antecipadas. Entretanto, houve uns jogos de futebol, soundbytes nas redes e uma peça de teatro na capital. Quem mata quem*, porquê e para quê, quanto do que dizemos chega a qual, mais ainda o que fazemos ou deixamos de poder fazer no dia-a-dia. E, sobretudo, o que nunca sequer fizemos, num palco ou noutra qualquer arena.

Encontrar consensos não é uma questão de votos, prémios ou públicos, senão de muito tempo e bastante resiliência, capacidade à parte de os desejar sequer. É o mais natural, há séculos, ser contra ou, mesmo, a favor da corrente, reafirmar crenças pessoais, declarar as margens que nos separam, ignorar os murmúrios desconfortáveis ou amplificados até ao vómito de eleição. Parece que bastam os temas: feita essa identificação não importam, de facto, as acções e as consequências das decisões mais concretas, trata-se de um megafone empoeirado à mão do mesmo arauto; por mais ecléctico, erudito mesmo, que esse revele ser, sempre se engasgará no desfile de nobres intenções com a costumeira necessidade de reconhecimento de pares, aceitação dos membros do clube ou admiração alheia. É assim que tem sido feito, nem sequer interessa muito por que género.

E se eu não puder, ou quiser, gritar, explicar, pedir, exigir, fazer, até?; Renunciar é, afinal, tão mais próprio do processo social que se queira sadio. Não que eu, alguma vez, deixe de reparar, dizer ou ir à rua e à urna, expressando, continua e claramente, o que não é meu. Ou deveria dizer o que é nosso?


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