Lusco-fusco

Hoje uma amiga, que tinha terminado uma relação amorosa há horas e não dormia bem há já algum tempo, ficou fechada com os sacos de compras na rua e mudou-nos os planos a todos: a nós que tínhamos uma chave dela, e também à outra amiga com quem se iria encontrar mais tarde em sua própria casa, se não tivesse que ter recorrido a vir à nossa primeiro. Palavra puxa palavra e algum café depois, foi desembocando esta sucessão de tristes eventos num harmonioso fim de um dia que mereceu ser vivido como quem improvisa de olhos fechados, mesmo sem saber tocar. Acabámos os quatro numa pequena viagem expontânea às margens do Havel, junto à floresta. Bebemos vinho verde frio em copos de vidro, entrámos pela água morna e pelo crepúsculo adentro a conversar em português como gente grande e ainda partilhámos azeitonas de Ibiza, pão pita com húmus e rúcula do nosso quintal. No regresso nocturno viemos entre silêncios a ouvir rádio nostalgia. Tantas vezes a simplicidade objectiva da estória do derradeiro final é a que perdura.

 

Havelchaussee, Berlin Grunewald

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