A mesma hora de sempre

As redes sociais de que me não livrarei tão depressa insistem em lembrar-me de esfumados instantes de há 5 ou 3 ou 10 anos, tal é a longevidade com que nos temos vindo a mover cada vez mais vertiginosamente, em alguns recantos sem cintos que nos segurem ou comboios que nos levem a tempo de chegar, a algum sítio que seja, atestando da existência efectiva através do olhar de qualquer outro que não o de seu semelhante, mil vezes multiplicado no enjoo de cada apertada curva. Tal é o medo, que se nos incute, constante e ininterruptamente, de perder qualquer pitada, afinal um reflexo basta. Nem por isso registando, de facto, a repetição dos próprios passos. A tecnologia avança, os problemas humanos sucedem-se e vão-se, mais ou menos, adensando sem resolução à vista, de acordo com a perspectiva particular de quem os poderá, ainda, aliviar ou tentar dobrar com um pingo de presença ou preserverança. A sobrevivência, essa, do corpo, do espírito, reservar-se-á a quem de direito, de resto busca-se um qualquer alimento a bem da ilusão de maior leque de escolhas das últimas semanas, serão meses, talvez alguns anos, desta era no limiar do derradeiro final da anunciada sensatez aliada ao progresso; agir é tanto mais difícil quanto pensar se torna tão, programadamente, obsoleto, tal qual os objectos que seguimos comprando enquanto nos vamos matando. A matança, outra, também em massa, progride, mas às claras, sob as leis e os estigmas; os negócios seguem impávidos, mesmo que pouco serenos, e nunca parece haver quem se atreva a arrepiar caminho. Será isto conforto para quem [se] fica?


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