Bisnaga verde
Hoje é o último aldeias à vista do ano, mas não consigo andar. Vamos alternando a pomada de sálvia com o creme fusídico, é demasiado forte junto aos grandes lábios da vulva para seguir usando. Cada muda de penso é um suplício desde ontem; hoje lavar-me, calçar-me, sentar-me são renascidos tormentos da mesma ansiedade de sempre. Quando se acabar o verde temos de descobrir como arranjar mais, mas ainda há outra bisnaga de Berlim. Ele diz que temos de ir a um hospital, mas sabemos que não me fazem nada num hospital. Centro de saúde em S. Teotónio, lancetamento a frio, talvez, se houver enfermeiro de urgência. Dermatologista privado, cirurgia com anestesia, marcando antes uma consulta, talvez em 10, 15 dias, 3 semanas,
se esta merda não rebentar e o Natal não se meter.
Nem recua, nem rebenta, é esse o estado a que chegámos, não acontecia há algum tempo;
vai inchando do vermelho ao negro, enchendo-se de pus e de todos os gemidos, as lágrimas e os gritos deste medo que é só meu e que não cheira a ir perdendo a visão ou não poder mexer-me, de repente, com tubos dentro que também são os dele; felizmente, o carro já voltou da oficina e ele sabe conduzir, cuidar de mim, confortar-me. São dele também os danos da frustração e da angústia de ficar assistindo o/ao nada poder. Tenho uma botija de água morna entre as pernas e espero pelo cigarro de haxixe, estou grata a todos que o fizeram chegar.
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