Descasca a acácia

Nesta manhã de sábado à chuvinha, não sei onde anda o meu companheiro, por ventura envolto em tarefas alternativas à pá e à enxada, que as dores não aguentam muito mais sem uma pausa, mas descansar ou namorar é meio que se não lhe ocorre sem chegar antes um esgotamento. Assim andam os meus amigos nos ensaios, em Lisboa; também em Lisboa e outras cidades terão, daqui a pouco, lugar várias manifestações contra o racismo. Eu acordo tarde e sem grandes fins, os trabalhos de grupo a que me propus aqui na estrada carecem, desta vez, de participantes, como aqueles que se poderiam ter desenvolvido, sem pressas, ao longo da semana e à distância. Tive a sorte de receber um desenho da minha amiga da Suíça, que diz que brincar é uma maneira de estarmos juntos a pensar mais do que com a cabeça. Pois é, amiga, mas até para brincar é preciso tempo, recurso cada vez mais escasso, como a capacidade de escutar e confiar na abordagem do outro ao trabalho, como à criatividade. 

Há uns meses perguntou-me alguém que não pára nunca, escutando um excerto de um comentário sobre outro alguém com quem gostaria de contar para vários projectos mais pedagógicos, com indisfarçável espanto, se eu tenho projectos. Talvez não tenha, de facto, se projectos se denominam apenas aqueles revestidos de orçamentos, candidaturas e longos currículos artísticos cheios de referências intransponíveis aqui no rectângulo. O que tenho é tempo para consensos e ideias em corrente esbarrando em faltas. E tenho esta amiga, que trabalha mais que todos os outros e, ainda assim, nunca diz que não a uma proposta que implique uma colaboração autêntica com espaço para ser idiota. 


À Ana, com gratidão.

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