Der stumme Sturm/ A tempestade muda

Gestern gab es ein trockenes Gewitter am Abend meiner sanften Sommerunsicherheiten. Die klanglosen Strahlen des Lichts, die zeitgleich mit einem seit Stunden Motor am Bahnhof zu erfahren war, schreckten meine Schritte und die der Hündin auf unseren üblichen Runden auf. Schnell kam auch der Kater nach Hause, wir drei etwas baff zusammen in der Höhle, nicht ganz sicher, was uns erwarten würde. Der Nieselregen war minimal, nicht genug, um den verborgenen Staub abzuwaschen und den Boden einen Tag lang ohne meine mehr oder weniger enthusiastische Beteiligung zu bewässern. Der größte Lärm kommt erst noch. Oder  vielleicht auch noch nicht.

Und so gieße ich weiter, auch wenn ich keine Lust dazu habe. Der Hündin geht es genauso. Der Kater aber kommt immer vorbei, um uns fröhlich einzustimmen. Wir befinden uns in der Sommererntezeit: mehr Tomaten und Gurken, jetzt weniger Zitronen von der seit Januar verreisten Nachbarin, etwas Kopfsalat, keine eheliche Momente oder freudige Augenblicke menschlicher Kameradschaft, aber eine enorme, bewohnte Stille bei Dämmerung, die wir drei nur mit all den anderen anwesenden Wesen im wachsenden Ökosystem teilen.

A tempestade seca foi ontem à noite, mas podia ter sido hoje à hora do almoço, há três madrugadas ou ainda há seis meses de manhã. Vou por aí, de grande pá de metal e comprida pá verde de praia em punho, ao entardecer, na busca de grandes poias recentes por recolher; quando reparo está a cadela a deliciar-se desenterrando pequeníssimas caganitas de ovelha esfomeada, ou, pior ainda, caca fina de enfartado gato, em franca, supostamente, resguardada decomposição (se não de sua própria asseada dissimulação). Sento-me, depois, a escrever numa fresca nuvem de mosquitos, nesta mesa em que tanto me encantaria servir - ou ser servida por - outros que por aqui estivessem, de facto. O gota a gota, graças ao intrépido e ininterrupto trabalho do meu companheiro nas horas todas do lazer, fazendo a sua parte. Quando levo uma azeitona à boca sabe-me a insecticida, melhor será embeber tudo em gim com gelo, limão e cigarros antes do jantar. Acabou o whisky para mais tarde e, além disso, já não estou para ressacas regadas a vinho tinto. Queria escrever sobre as ideias que, a muito custo, ou, aliás, nenhum, para além de se verem quimera, se têm vindo, de algumas formas, articulando ao longo das últimas semanas. Mas. O meu espírito é demasiado reactivo. Rico em ancestral culpa que, por diversos motivos, lhe caberá ainda carregar, sobram-lhe muitos malogros, não menos queixumes.

Crescem paletes à velocidade da luz por todo o horizonte cada vez mais fechado do jardim, quando o que queria era desafogo e tinta para ir pintando as primeiras cercas com pessoas capazes de outras, bem como de plantas e de animais. Onde está o projecto comunitário crescendo devagarinho? Que fazer com todas as estruturas prontas a induzir o consumo de um trago, senão adensar solitários encargos de manutenção? Como desenrolar qualquer incógnito enredo? 

Esgotados estarão os pedidos de um eco de possibilidades junto daqueles que por cá já foram, airosamente, respirando - eco este, já agora, que soubesse chamar esses famigerados, tão esperados, outros, prontos a parar e meter as mãos na merda em continuidade. Não quero mais relatos da beleza peculiar das nossas prateleiras ou dos mais agradáveis recantos para a fruição instantânea de cómodas breves passagens. Quero ligações dos pés ao terreno literal e metafórico, ouvidos num futuro, realmente, escavado pouco a pouco no presente metafísico, uma interminável teia de mãos que se possam ir, mutuamente, tocando e re-orientando à oscilação da brisa nocturna. Lembro-me de termos falado tanto sobre isto, quando tudo começou. Alguns de nós, pelo menos. 

De que me servem icónicas promessas de potenciais retiros nas redes sociais? De que me sirvo exasperando-me sem mais? De que sirvo reformulando ingratidão?

A culpa segue, aqui e ali, parecendo-se a si mesma, lamentando-se nos mais variados pretéritos. As minhas próprias expectativas suas mestras, tal qual uma total incapacidade de as ultrapassar sozinha. O que vale é que sempre acabam por chegar trovões, chuva, alguma permeabilidade. A tempestade muda, a genética nem por isso.



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