Mudanças e Variações

Ontem fizemos um registo, um ritual de salvaguarda da memória, uma espécie de viagem às nossas referências. Todas as de que nos lembrámos e que cabiam no quadro que, religiosamente, usamos desde que passámos a encontrar-nos em minha casa (já na sequência da grande pausa das quarentenas de 2020 e 2021). Depois falámos sobre o António Variações, ouvimos e cantámos o Dar e Receber, o É Pr‘Amanhã e a Canção de Engate. Já não há sofá, candeeiro sobre a mesa da sala ou parede falsa a separar o guarda-roupa. Duas paredes estão agora repletas de caixotes empilhados. Foi o início do fim, só faltam 3 lições com o meu mais antigo aluno de português, com quem acabei a fazer bolos, bolachas e quantas mais sobremesas, massas com molho picante de tomate e ervas aromáticas, sopa, bacalhau, arroz e legumes salteados. Fizemos teatro, ouvimos tanta música, dançámos à bruta, comemos gelados, comprámos livros, cds e discos, passeámos em Mitte e em Kreuzberg, no Tejo, no Cais do Sodré, na Bica, no Bairro Alto e na baixa de Lisboa, nadámos no oceano Atlântico e jantámos em Lagos com a família; estudámos história, biologia, geografia, ética, literatura e gramática, partilhámos tradições, sonhos e preocupações. Dizer que vou ter saudades é redundante. Lá mais para o final do ano, ele estará algures, em Portugal, a fazer um intercâmbio escolar por uns meses, e ver-nos-emos, seguramente. Gostaria que fosse no Sudoeste, entre o jardim, a biblioteca e a cozinha do colectivo.



Dar e Receber, António Variações, 1984

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