Thou shall not feign affection
Do latim: desiderato, desiderata (pl) - o que se deseja, aspiração
Desde que eu me lembro e até ao último dia, a minha mãe viveu sempre com este poema emoldurado na parede do quarto. Aceitei-o naturalmente como parte integrante da memória afectiva de toda a vida, sem que alguma vez me ocorresse averiguar da longevidade da sua beleza ou particular pertinência. Quase como se de um texto religioso familiar - uma constituição mística - se tratasse. Creio que assim foi para todos lá em casa. Para além da música e da literatura, foi-se estabelecendo um inquestionável encanto pelo que parecia ser um portal de acesso a uma dimensão espiritual na forma de carta universal de intenções. Intenções essas nem sempre mais que isso mesmo. Mas a cada geração se renova a esperança de prosperidade. Ainda que sem descendentes para cumprir a demanda, temos tempo. Até porque não temos que tornar nossas quaisquer aspirações alheias. A mim não se me ocorreria evitar pessoas barulhentas. Já simular afecto só mesmo no palco e mesmo assim dependendo da natureza da encenação. Prefiro, sempre que possível, pensar antes numa demonstração artística de sentimentos reais. Continuo a acreditar que os melhores actores são pessoas transparentes. E esse desejo, o de ser transparente e de reiterar transparência em cada relação que se queira de mútuo respeito, julgo ter herdado da minha mãe.
“Desiderata”, Max Ehrmann, 1927
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