Um processo iconoclasta
De há uns tempos para cá ando a pensar outra vez mais em sonhos e fotografia, ambos temas recorrentes deste blog. Estava, distraidamente, a ler um artigo que a minha boa amiga que diz que tudo sempre muda me sugeriu, sobre um método contemporâneo de treino de actores, nos EUA, que involve o caminho da individuação através da análise de sonhos, passando um bocadinho por Jung, Stanislawski e Buda, quando me dei conta da minha já vetusta convicção de que não há nada mais eficaz, ou que melhor potencie a criatividade, se quisermos, do que uma vivência diversa no que diz respeito a práticas de auto-conhecimento e de expressão de emoções, sejam elas artísticas ou não. É a melhor possibilidade de transformação e de construção do que quer que seja que se queira iluminante para nós mesmos enquanto pessoas: estar sujeito a uma variedade de actividades que, na sua riqueza, possibilite o reconhecimento dos símbolos que, mais ou menos inconscientemente, vamos tomando como nossos, criando, destruindo e acumulando ao longo de um percurso que cada vez mais se vai distinguindo de todos os outros, elaborando, assim, uma espécie de consciencialização da especificidade da nossa própria linguagem.
Gostava de ter tido a vontade e a capacidade de aprender mais tecnicidades da fotografia e de a ter incorporado mais cedo no meu trabalho em teatro e pedagogia. No fundo, como amadora perfeitamente diletante, limito-me a experimentar com a luz e, principalmente, a improvisar enquadramentos na minha mais automática que analógica, mas ainda assim bastante satisfatória, máquina fotográfica (melhor do que eu julgo vir alguma vez a saber usar). A fotografia é uma expressão de que, sem qualquer domínio, gosto de fruir pelo simples prazer que me dá fixar e alterar perspectivas particulares da existência sem grandes ou quaisquer prévias maquinações. Da memória, do desejo, do medo, da alegria, da surpresa, da beleza, do horror. Também são essas coisas que para nós mesmos representamos em sonhos e que na vida real perseguimos quando nos queremos inteiros, em contacto com o indizível.
Tulipas de estufa holandesa
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