De Wedding a Está Bem

Deixámos Berlim quando amanhecia, mal se podia adivinhar a violência torrencial que se avizinhava. Eu tinha dormido 2 horas, o leite era doce e queimei a torrada. Tentei enfiar uma lente de contacto no olho esquerdo durante meia aflitiva hora, enquanto a exasperação se transformava em mau humor e, no cais de Gesundbrunnen, em choro compulsivo. Nem abracei bem a minha boa amiga, que se levantara para nos ver partir. No comboio até ao aeroporto o sol raiava, mas não olhei pela janela, já que precisei de mais uns largos minutos para perceber que tinha uma lente em cima de outra lente. Foi já a caminho de Munique, a ouvir The National de olhos fechados sobre as nuvens, que creio ter aberto mão do que sobrou e não pude trazer.

À Alice, de quem não me despeço



Em Faro, bebemos uma imperial ao sol, fizemos chamadas entusiásticas a dizer que chegámos e lá fomos, de uber, pela serra de Monchique acima, com destino à estação ferroviária a 200 metros da porta: os trabalhadores da CP estão de greve e nós queríamos chegar a casa. Abrimos as janelas e as portadas, limpámos o pó das obras dos eletricistas, dos pássaros do sótão e do tempo que passou, expulsámos os aranhiços, lavámos a banheira e o chão, sentámo-nos à mesa da cozinha a comer uma lata de cavala com espirais em molho de tomate com malagueta, acompanhando com o que, em Abril, restara de tinto no garrafão. Depois bebemos descafeinado e vimos as estrelas no dito logradouro, a que chamaremos pátio. Tomámos banho e atirámo-nos para a cama no nosso quarto.





 

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