Páscoa Felix!
Esta é a Salix (Salix Fragilis ou Vimieiro Frágil). Foi transplantada do nosso jardim urbano, em Kreuzberg 36, para as margens vizinhas do Landwehrkanal, território em que esperámos que se viesse a desenvolver em todo o esplendor e vigor natural, há um ano e nove meses. Na altura ensaiávamos e gravávamos pequenas cenas, como transplantes, cortes e rega, para o Walking Roots Cabaret - título que o nosso amigo e antropólogo colaborador, que diz que o futuro passa por formas radicais de solidariedade, não apreciou sobremaneira. Segundo ele, esta nossa tendência, ainda latente, de atribuir características humanas a seres de outras espécies, vulgo antropomorfismo, em nada contribui para o desmantelamento da Antropocena ou Capitalocena, movimento com que nos comprometemos, consciente e formalmente, nesse Verão fundador. Na verdade, o título do cabaret, em que a Salix representou um papel muito importante, tinha-se inspirado na botânica (também ela, naturalmente, padecendo do mesmo problema), mais concretamente, numa árvore denominada Walking Palm. Segundo o nosso jardineiro, as árvores andam, de facto, pelo menos na linguagem de quem trabalha o solo e as plantas; isto é, deslocam-se não através de pés e pernas, mas de raízes. Tal como são capazes de comunicar entre si e estabelecer família. Não somos assim tão, completamente, diferentes.
Hoje senti-me sozinha: por mais que me tenha habituado a uma determinada solitude e até a aprecie, agora que o meu companheiro vive, temporariamente, no Alentejo e as conversas em vídeo com amigos distantes se tenham reduzido bastante desde que todos voltaram ao trabalho quotidiano pós-pandemia, entre outros factores que não posso controlar, às vezes sinto-me só. O dia estava escuro e húmido, da Páscoa e dos encontros de família pouco me toca e o gato tinha ido visitar os vizinhos. A mim apetecia-me andar. Levei a máquina fotográfica e arrisquei uma visita à Salix… na Primavera passada ainda não tinha renascido, apesar de continuar a exibir alguma vitalidade. Pois bem, a nossa querida árvore renasceu, teve filhotes (podados, manhosamente, por jardineiro desconhecido) e enraizou-se com toda a força, dando sinais de que a proximidade da água a terá inspirado a possíveis novas deslocações na sua direcção. Tirei uns retratos com ela e vim andando sorrindo.
Viva a Primavera, viva a renascença e o contínuo desenvolvimento!
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